Júnior Torres de Castro PY2BJO, foi um radioamador brasileiro, e um dos poucos brasileiros que tiveram o privilégio de ter o seu nome indicado na lista para o Prêmio Nobel da Paz.
Ele foi o Idealizador com recursos próprios, projetista e primeiro civil proprietário de um satélite no mundo, o qual ainda está em órbita, o DOVE (Digital Orbiting Voice Encoder), que também significa “Pomba da Paz”. O satélite era destinado a fins educativos e humanitários e somente deve reentrar na atmosfera da Terra no início próximo século. Junior Torres de Castro nasceu em Botucatu/SP, filho de Gentil de Castro, diretor dos Correios e Telégrafos na cidade nos anos de 1950 a 1965. Sua mãe o presenteou com o livro: Conheça seu rádio e ele construiu um Rádio de Galena.
Com 12 anos de idade, em 1945, logo depois da Segunda Guerra Mundial, Junior tinha licença de radioamador na Classe Juvenil. Seu primeiro emprego foi como entregador de telegramas e posteriormente como telegrafista profissional dos Correios. Tudo que era novidade naquela época passava por suas mãos no Correios de Botucatu e o jovem tinha uma enorme curiosidade em aprender e para construir coisas inéditas.
Com o conhecimento de telegrafia atingiu a Classe A do radioamadorismo com facilidade, em 1954. Isto também o influenciou na sua formação. Por gostar de antenas, radio comunicação e eletrônica, Júnior formou em Engenharia Civil na Universidade Mackenzie de São Paulo, Elétrica (USP) e Eletrônica (University of Columbia) , além disso fez vários cursos no exterior em Geologia, Geofísica (Suécia), e era Phd em Física. Como empresário, Junior Torres de Castro tinha uma empresa de perfuração de poços artesianos. Em outubro de 1957, recém formado em Engenharia, ele ouviu o som do satélite Sputnik no seu rádio amador e teve um sonho de lançar um satélite ao espaço. Ele indagou, porque um beep, beep, beep e não voz, não significando nada. O visionário Junior pensou em um satélite que se comunicasse com as pessoas da Terra, informando tudo o que está acontecendo com o satélite.
Falando com outros radioamadores, o jovem logo entendeu o significado do sinal, que era a telemetria. Isto foi o ponto inicial de desenvolver um satélite que falasse. No ano de 1957 foi comemorado o Ano Geofísico Internacional, e foi quando as manchas solares atingiram um número muito expressivo: mais de 200. Então, os cientistas do mundo inteiro resolveram fazer coisas novas como ocupar o Polo Sul, descobrir terras nunca antes exploradas como pesquisar o fundo do mar. O espaço estava começando a ser explorado com a surpresa do Sputnik e isto foi determinante para a sua carreira.
Logo o entusiasta da radiocomunicação e do espaço começou a participar de Congressos Internacionais, e então aprendeu como se fabricava um satélite. Aquele brasileiro era um “estranho no ninho” naquele meio que ele considerava os cientistas estrangeiros como “Deuses”. Dificilmente os “Deuses” aceitavam a sua presença, mas com o passar do tempo e com a presença constante do brasileiro nos eventos, os cientistas viram algo naquele jovem visionário. Eles foram se acostumando e a querer ele bem “o curioso “com a sua presença.
Ele afirmou em uma entrevista que teve a sorte de ter excelentes professores e de conhecer a elite dos cientistas de todos os níveis. Com 33 anos de idade, em 1966, o visionário começou a dar forma no seu sonho espacial. Como empresário, Junior Torres de Castro tinha uma empresa de perfuração de poços artesianos. No final deste sonho ele consumiu 5.000 cabeças de gado e três casamentos. Junior desenvolveu a princípio um pequeno satélite de 4 kg, chamado de Tijolinho (Little Brick), operando em VHF (2 metros) e em voz ! Os componentes ele comprou na região de comércio eletrônico na região da Santa Ifigênia em São Paulo. Todos estavam acostumados em fazer satélites grandes e o visionário Junior Torres de Castro teve a idéia de fazer pequenos satélites, hoje coisa normal no mundo aero espacial, um feito fantástico para a época.
Ele levou o “Tijolinho” debaixo dos braços nos Congressos Aeronáuticos e Aeroespaciais Internacionais, para que os cientistas permitissem a venda de componentes que iriam resistir as altas e baixas temperaturas do espaço. Sem esse apoio dos cientistas não teria sido possível a compra de componentes qualificados para uso espacial. Não podemos esquecer que era a época da Guerra Fria e para conseguir um material destes era muito difícil, não impossível ! Em um Congresso da Universidade de Utah, realizado em 1977 em Logan, perto de Salt Lake City, ele demonstrou o “Tijolinho”. (Little Brick), operando em VHF (2 metros) e em voz ! Os componentes ele comprou na região de comércio eletrônico na região da Santa Ifigênia em São Paulo.
Todos estavam acostumados em fazer satélites grandes e o visionário Junior Torres de Castro teve a idéia de fazer pequenos satélites, hoje coisa normal no mundo aero espacial, um feito fantástico para a época. Ele levou o “Tijolinho” debaixo dos braços nos Congressos Aeronáuticos e Aeroespaciais Internacionais, para que os cientistas permitissem a venda de componentes que iriam resistir as altas e baixas temperaturas do espaço. Sem esse apoio dos cientistas não teria sido possível a compra de componentes qualificados para uso espacial. Não podemos esquecer que era a época da Guerra Fria e para conseguir um material destes era muito difícil, não impossível ! Em um Congresso da Universidade de Utah, realizado em 1977 em Logan, perto de Salt Lake City, ele demonstrou o “Tijolinho”. Sob olhares atônitos dos cientistas presentes, o engenheiro brasileiro colocou sua geringonça em cima de uma mesa e, do outro lado da sala, começou a receber os sinais em viva voz por um HT. Com isto, os cientistas e os órgãos governamentais dos Estados Unidos autorizaram a venda dos componentes. Iniciando o projeto dos Micro Sats.
Foto: Capa da revista CQ Magazine 2011
Castro mudou-se para Bolder, nos Estados Unidos e enviou cópias de seu projeto para cinco fabricantes de equipamentos espaciais, devidamente acompanhadas por cartas de recomendado de cientistas como Jean King, Harold Price e Jim White, todos papas do estudo do espaço sideral. O engenheiro baita a porta dos fabricantes espaciais do mundo todo e alguns até fizeram a preço de custo por causa da finalidade da missão.
Júnior Torres de Castro foi Presidente da ANSAT norte americana por quatro mandatos seguidos (8 anos) e também foi um grande colaborador da LABRE, chegando a ser presidente da liga brasileira.
Foram construídos 4 Micro Sats nos Estados Unidos, dois para os Estados Unidos, um para o Brasil, um para a Argentina, e com a ajuda de Junior. Ele teve que montar um laboratório nos Estados Unidos para construir o seu próprio satélite. Os americanos obrigaram a ter dois satélites diferentes com dois países diferentes por causa da alta tecnologia envolvida, não favorecendo somente o Brasil. O satélite argentino foi chamado de LUSAT (OSCAR-19), o satélite brasileiro foi chamado DOVE (OSCAR-17).
Foto do satélite DOVE OSCAR 17
O custo total previsto era de 4 milhões de dólares e só painel solar custava 600 mil dólares ! O custo acabou reduzido para US$ 225 mil. Parte deste investimento (US$ 120 mil, fora outras despesas com viagens, etc.) foram feita por Castro e o restante pela AMSAT Brasil (Rádio Amateur Sattelite Corporation).
Para o mundo dos radioamadores, este micro satélite era o OSCAR 17. O nome DOVE ”Digital Orbiting Voice Encoder” foi inventado por Junior e teve ótima repercussão ente os cientistas. “DOVE” significa pomba em inglês, algo como Pomba da Paz para o satélite que iria falar voz de crianças no espaço.
Este satélite teve seu início de desenvolvimento no período da Guerra Fria, numa época de enormes dificuldades para a obtenção de autorizações de uso de laboratórios de testes e certificações para dispositivos espaciais. Enquanto desenvolvia o satélite, o radioamador Júnior Torres de Castro (PY2BJO) ajudava na comunicação das missões dos ônibus espacial com o Centro de Controle da NASA. Os astronautas que haviam perdido o contato com a Terra, e o radioamador repassava as informações de telemetria do ônibus espacial para a NASA. A antena do ônibus espacial Columbia não conseguia apontar para se comunicar com o satélite TDRS que estava acima do ônibus espacial. A ajuda do radioamador também salvou os experimentos que estavam sendo realizados a bordo do ônibus espacial.
O feito do radioamador brasileiro foi noticiado em jornais, revistas e até no Fantástico. Ele foi convidado para ir até os Estados Unidos, em Houston, para ser homenageado em outubro de 1987 pela NASA e por 86 astronautas por ter salvo a missão da Columbia. Ao invés dele pedir autógrafos para os astronautas, aconteceu o contrário ! Em 4 de novembro de 1989, ele recebeu uma homenagem dos radioamadores, no “The Microsat Project” Com o ônibus espacial Atlantis (STS-45), ele apareceu na TV ajudando as crianças brasileiras a se comunicarem com o astronauta Brian Duffy em 26 de março de1992, com a reportagem sendo exibida no Jornal Nacional. Junior era uma Estação de Apoio da NASA e da Estação Espacial Mir.
Ele também ajudou os soviéticos/russos com a Estação Espacial Mir (Paz em Russo) e ainda em seus contatos de rádio ele se tornou amigo dos cosmonautas, especialmente do cosmonauta Musa Maranov que esteve na Mir entre 1990 e 1991, ele é um dos poucos do seleto grupo de astronautas/cosmonautas que ficaram mais de 500 dias no espaço. Quase todos os dias, Junior falava com os cosmonautas da Mir. Por causa de suas amizades e do objetivo do satélite DOVE, o satélite iria de carona em um foguete Ariane. De 1984 a 1989 foram construídos os novos “Tijolinhos”. O satélite DOVE foi finalmente lançado em 22 de Janeiro de 1990 às 01:35 UTC (21 de janeiro no horário brasileiro), lançado “de graça” por um foguete Ariane 4, na Guiana Francesa. O micro satélite DOVE (Digital Orbiter Voice Encoder-Digitizador de Voz Orbital), ou Pomba da Paz (Dove – Pomba em inglês) falava Paz na Terra e no Espaço em português, inglês e russo entre outras mensagens. Foram enviadas ao espaço 6000 mensagens de crianças de vários países do mundo que Junior mesmo coletou, por onde andou ao redor do mundo. Uma criança de Araçatuba/SP, enviou uma mensagem para o visionário: Plante amor, e colha a paz e a mensagem foi para o satélite. Durante o dia, três mensagens eram enviadas do Satélite para Terra. Um lançamento custa 40 milhões de dólares e com a ajuda da amizade ele foi ao espaço de graça ! O DOVE foi lançado na companhia dos seguintes satélites: SPOT 2, UoSAT 3, UoSAT 4, Webersat, Pacsat e o argentino Lusat. A primeira mensagem de áudio enviada a Terra, foi das válvulas do coração (sopro do coração), mostrando que o satélite estava vivo ! A telemetria era um treinamento para os rádios amadores que adoravam receber os dados e enviar para o PY2JBO. Com isto, os operadores de rádioamador voluntariamente ao redor do mundo enviavam os dados para o criador do DOVE e Junior verificava se havia algo de errado com a saúde do satélite.
O satélite brasileiro DOVE ficou operacional no espaço por 8 anos, o previsto era 6 anos ! Mesmo assim, a mais de três décadas, aleatoriamente o satélite ainda pode ser rastreado no espaço quando está na luz do dia, já que as suas baterias estão esgotadas. O DOVE foi o primeiro satélite que não pertence a entidade, empresa, governo, ou a um país e foi também o primeiro satélite produzido a transmitir mensagens faladas. Ele circula ao redor da Terra em uma órbita síncrona de 100 minutos, com uma inclinação de 98° a cerca de 790 km de altitude. Sua potência de transmissão era muito elevada na época, com cerca de 4 watts. Ele não possuía sensores científicos, ele só media os valores dos sistemas de bordo (WOD), transmitindo os dados para a Terra na freqüência de 145.825 Mhz para telemetria a 1K2 AX.25 em FM, 145.825 MHz voz digitalizada em FM e Banda S 2401.220 bps MHz BPSK.
O DOVE com somente 12, 92 Kg tinha uma característica única, uma saída de transmissão de voz digitalizada, bem como gravações de voz digitalizadas da Terra. Pela primeira vez foi utilizada a técnica dos componentes montados na superfície (SMD) e o processador utilizado era de um PC286, revolucionário para a época.
O DOVE é um satélite em forma de caixa com dimensões de 213 × 230 × 230 mm, com 16 painéis solares nas faces do cubo e 5 antenas de telemetria. O seu número no NASA Catalog Number é 20440. O Dove-OSCAR 17, é um microssatélite da série AMSAT (também conhecido como BRAMSAT no Brasil, atual AMSAT-BR).
Em telecomunicações, AMSAT é a sigla pela qual é conhecida a Radio Amateur Satellite Corporation, constituída em 1969, com finalidades educativas, não lucrativas. O primeiro satélite de rádio amadores subiu ao espaço em 12 de dezembro de 1961 e recebeu a denominação de OSCAR I (Orbiting Satellite Carrying Amateur Radio ). Júnior Torres de Castro acompanhou durante 20 anos, sempre no mês de agosto, os trabalhos na Base espacial de Kourou de forma espontânea e gratuita, maneira que ele encontrou em agradecimento pelo lançamento do seu satélite microsat. Com o início da internet, Junior achava que o radioamador iria acabar. Mas, ele falava que a pessoa que é radioamador é como um artista ou pintor e ele tem o Dom para ser radioamador. Nos anos de 1990. Além de construir o Dove 2, Ele gostaria de levar um satélite brasileiro para a Lua ! No dia que completou 80 anos, em 9 de abril de 2013, ele sonhou em construir uma “Antena Farm”, uma Fazenda de Antenas com antenas inovadoras, no topo de uma montanha. No inverno de 2013, o seu sonho estava realizado na zona rural de Bragança Paulista/SP, com antenas de altíssimos ganhos, e gerando resultados fantásticos. O local ele apelidou de Clube do PY2BJO.
O entusiasta brasileiro caipira de Botucatu, como Junior costumava falar deixa a mulher, 9 filhos e 12 netos.
“Eu me sinto realizado de tudo que fiz.”
Junior Torres de Castro (9 de abril de 1933 / 17 de janeiro de 2018).